terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Treze Pro-Vocações sobre as Diretrizes Gerais da Ação Evagelizadora no Brasil 2011-2015


Márcio Macico l’Oliveira

Para cumprir sua missão, a Igreja, impulsionada pelo Espírito Santo, acolhe, reza a Palavra que salva, escuta os sinais dos tempos, revê práticas pastorais e discerne objetivos e caminhos.
Dom Leonardo U. Steiner, Apresentação das DGAE’11-15.

O cristão do futuro será um místico - alguém que experimentou alguma coisa - ou não será nada.
Karl Rahner

A Igreja é o melhor lugar.../É minha raça, estou/ em casa como no meu quarto.
Adélia Prado, Bagagem.
Primeiro Passo

1. Con-templar Jesus. ‘Quando con-templamos verdadeiramente Jesus percebemos que ele arma sua tenda no meio de nossa realidade’ (cf. DGAE 4-5; Jo 1,14). Mas que Jesus? Onde está Jesus? Quem é esse Jesus mesmo? O que tem nos anunciando? É míster saber onde procurar o Senhor, isso, pois, Ele nos pede que o procuremos em meio a seus pequeninos, seus pobres, seu povo. A todo momento está comunicando-se conosco e nos convidando para festa do Reino (cf. Lc 14,15-24). O encontro pessoal e comunitário que um dia – ou todo dia – fizemos com Ele, precisa ser alimentado para que, a partir de nós, seu Evangelho ressoe no mundo. São os ‘olhos de Jesus’ – “Vendo a multidão, ficou tomado de com-paixão...” (Mt 9,6) – nos nossos olhos, que nos permitirão alcançar essa realidade tão complexa.

Marcas de Nosso Tempo

2. ‘Incertezas’ de critérios. Os ‘olhos de Jesus’ nos fazem ver a verdadeira face da realidade que está a nossa frente. Entre os mais desafiadores dos traços desse tempo em que vivemos está a inseguraça e dúvida em relação aos valores e questões fundamentais da vida: afinal, o que é mesmo importante em nossa vida? Ainda mais, não se trata só da ‘escolha de critérios’ - escolher entre o bem e o mal -, mas “as mudanças de época atingem os próprios critérios de compreender a vida, tudo o que a ela diz respeito, inclusive a prórpia maneira de entender Deus” (DGAE 25) – a questão agora é: ‘o que é o bem?’ ‘O que é mal?’. E isso se torna preocupante ao pontos de não sabermos ao certo do que estamos falando ou o que estamos fazendo, ou seja, podemos estar falando de fé, mas nossa vida não expressa nenhuma crença especial. Vivemos em “tempos líquidos”, é preciso segurar-se em algo, mas não sabemos em que segurar direito, as coisas escorrem de nossas mãos[1].

3. Individualismo e fundamentalismo. Nesse tempo “di-verso”, a noção de compromisso e pertença ficam completante comprometidas, sem falar na questão da justiça que, fica quase impossível porque o que vale é a ‘Lei de Gérson’: “O melhor para mim!” As comunidades têm experimentado como pode ser violento o individualismo na evasão de seus membros. Já se falou: “Jesus, sim! Igreja, não!”, mas hoje a máxima parece ser: “Jesus, não! Igreja, nem pensar!” Associado ao individualismo, no âmbito religioso, “o fundamentalismo torna-se ainda mais perigoso, pois impede que perceba o outro como diferente” (DGAE 23): o outro - pessoa, Igrejas e religiões -, que deveriam ser nossa ‘completude’ (E. Levinás), tornam-se nosso ‘inferno’ (J. P. Sartre). Essas questões nos afetam diretamente por que mexem com nossos ser Igreja, que implica em vida comunitária, diálogo, amizade e constução “conjunta” de um outro mundo possível.

Fontes da Evangelização

4. ‘Palavra do Senhor’, Vaticano II e Aparecida. É tempo de voltarmos com particular atenção e assiduidade às fontes de nossa fé: à Palavra de Deus, de forma particular impulsinoda pela Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Verbo Domini”, do Papa Bento XVI sobre a Palavra de Deus na vida e missão da Igreja; aos documentos do Concílio Vaticano II (na esteira da celebração de seu Cinquentenário), a maior autoridade em ensinamento da Igreja, sobretudo no que diz respeito ao diálogo com as outras Igrejas e religiões, com o homem moderno e com o mundo de hoje, que nos incita dizendo: “... a Igreja reza e trabalha ao mesmo tempo, para que a plenitude do mundo todo entre no grêmio do Povo de Deus” (LG 17); e ainda, no nosso contexto latino-americano e brasileiro, o Documento de Aparecida é o ‘catecismo pastoral’ dos discípulos missionários, onde compreendemos que “nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé” (DAp 365b).

Constantes da Evangelização

5. Conversão pastoral. É preciso “ir além de uma pastoral de mera conservação” (cf. DAp 370). Só iremos compreender e transformar evangelicamente a realidade eclesial e social em que vivemos se nossa forma de ser e fazer Igreja passar por uma “conversão estrutural”; as estruturas ‘velhas’ de ação pastoral não estão conseguindo dar resposta as perguntas dos homens e mulheres deste tempo. Essa mudança precisa ser radical (a partir da ‘raiz’) expressa com uma presença missionária que esteja atenta as preces ‘silenciosas’ e ‘silenciadas’ de nossos irmãos onde estiverem. Pastores e lideranças, pastorais e movimentos, organismos e estruturas não podem precindir dessa transformação, pelo contrário ela dese assumida comunitariamente.

6. Urgências. Urgente é aquilo que não se pode adiar, mas para a missão dos discípulos missionários, é mais que isso, “urgências” são necessidades e ao mesmo tempo ‘exencialidades’ de nossa Igreja. É mais que dizer ‘prioridade’, é aquilo que, inclusive, toda prioridade deve priorizar. São elas: Igreja em estado permanente de missão; Igreja: casa da iniciação cristã; Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; Igreja: comunidade de comunidades; Igreja a serviço da vida plena para todos. As urgências precisam ser os perenes, permanentes e persistentes compromissos da Igreja, sem as quais, a Igreja não conseguirá eficazmente levar em frente o Reino de Deus.

Cinco Urgências

7. Urgente saída. Será que conseguimos definir com facilidade o que é missão? Ou qual o significado da missão hoje? Diz Dom Hélder Câmara: “Partir, mais do que devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se aos outros, descobrí-los, ir-lhes ao encontro!” Não se trata de um tempo expecífico de nosso calendário pastoral ou um lugar previamente escolhido, o tempo de missão (do latim, missio, que quer dizer ‘envio’) é sempre “o hoje” e os lugares de exigente missão estão ao nosso lado, em nossa frente gritando uma presença cristã; é preciso ir longe (hoje “Cristo aponta para a Amazônia”, dizia Paulo VI), mas não esquecer daqui de perto. Essa “urgente saída”, “permanente missão” (cf. DGAE 31) diz respeito ao nosso ser cristão, ao batismo que acolhemos, a con-vocação Jesus, frente a qual, quiçá, possamos responder com Paulo: “Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16).

8. Urgente (re) iniciação cristã. Ao olharmos sobre nós mesmos devemos reconhecer em nossa comunidade a “Casa de Iniciação Cristã”, ou seja, lugar de “suscitar nos corações o seguimento de apaixonado” (DGAE 38) a Jesus. Começar o ‘catecumenato’ na paróquia é um tímido início, mas que isso, é mister envolver todas ações, pastorais, movimentos e estruturas numa dinâmica catecumenal: anunciar Jesus (“kerigma”), proporcionar experiência de diálogo fraterno (“dia-logia”), apontar caminhos para o serviço (“diakonia”) e testemunhar o Reino juntos (“martiria”), ou seja, “é preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo” (DGAE 40).

9. Urgente (re) descoberta da Escritura. A Sagrada Escritura precisa voltar a ser o centro fometador de vida em nossas comunidades e deixar ser ‘intrumentalizada’ em momentos litúrgicos e reuniões. “O atual momento da ação evangelizadora convida o discípulo missionário a redescobrir o contato pessoal e comunitário com a Palavra” (DGAE 45), pois “ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo” (S. Jerônimo). Ela é a primeira e grande fonte de nossa fé. Ela nos faz perceber que “Deus fala misturado nas coisas: os olhos da gente percebem só as coisas, mas a fé enxerga Deus que aí nos fala”[2].

10. Urgente! Rede de comunidades. É em meio às alegrias e angústias das comunidades que os discípulos missionários realizam o seguimento de Jesus. “Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã, isto é, o Reino de Deus” (DGAE 56), na comunidade Jesus confronta e questina, chamando-nos a construir um Igreja profética e uma sociedade justa e solidária. A Igreja é comunidade de comunidades e deve esmerar-se em ser rede de comunidades, um espaço plural e frutuoso, escola de diálogo, amor, justiça e fé, onde os cristãos com criatividade e sensibilidade possam realizar-se como os primeiros cristão: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Isso só será possível através da renovação das paróquias, mudança no cerne de suas estruturas, por exemplo, através de sua ‘setorização’ em unidades menores, a qual, de forma particular, os leigos e leigas possam exercer seus diversos ministérios em comunhão com seu pastor (cf. DGAE 138).

11. Serviço testemunhal urgente. “As alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS 1), diz o Vaticano II. A Igreja como “advogada da justiça e dos pobres” (cf. DGAE 113), não pode, de forma alguma ‘olhar de fora’ os dramas e dores de nossa sociedade, logo que são os dramas e dores de seu povo, nossos irmãos. Por isso é fundamental mirar os “novos rostos dos pobres” (DAp 402) e efetivar a opção pelos pobres, como uma opção do próprio Jesus, não assitencialista e concreta, a partir de nossas comunidades, espaços de fraternidade, justiça e esperança.

Como Fazer

12. Pensar a ação. “Quem faz um poema abre uma janela”, diz Quintana[3]. Poesia tem muito haver com pastoral, quem faz pastoral também abre janelas, portas, portinholas, frestas, buracos, por sua vez, estas levam para o mesmo lugar: o Reino de Deus. Por isso é preciso planejar: “Planejar é ‘pensar a ação’ antes, durante e depois dela” (DGAE 123). Na maioria das vezes conseguimos até planejar, mas nossos planejamesntos não condizem com a realidade ou carecem de coerência prática; ou seja, não estamos pensando bem! A comunidade é a nossa casa, ela será bem melhor quando nós a fizermos assim.

13. Passos Fundamentais. No nosso planejamento podemos seguir alguns passos: (VER) 1) Onde estamos: conhecer nossa realidade, ‘colocar os pés no chão!’ (cf. DGAE 127); 2) Onde precisamos estar: pontuar os lugares de ação no âmbito da pessoa, da comunidade e da sociedade; 3) Quais são nossas urgências: expecificar o essencial de ‘onde devemos estar’; (JULGAR) 4) Que precisamos alcançar: elencar objetivos claros e pontuais; 5) Como vamos agir: buscar iluminação dos documentos da Igreja, de forma particular nas DGAEs, no Vaticano II e, claro, na Escritura; (AGIR) 6) Que vamos fazer: programar a ação evangelizadora; 7) Renovação das estruturas: mudar as estruturas pastorais de ação.


[1] cf. BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 7.
[2] MESTERS, Carlos. Bíblia: livro feito em multirão. Sâo Paulo: Paulus, 2007, p. 10.
[3] QUINTANA,Mario. Apontamentos de história sobrenatural. São Paulo: Globo, 2005, p. 188.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mamute


 Macico M




Estou farto de não
estar farto de nada
e o meu cristo não está
dependurado na parede
Sim
espero o mamute sair da geleira
com seu barrido ensurdecedor
e do meio do salão
estragar a convenção de fariseus

Agora transformo ideias em realidades
para que do ventre das experiências
possam nascer criaturas
metade serpente, metade pombas
que estejam com vontade de beber
comigo desse cálice

Não permita que se afaste
de mim esse cálice...
Não cale-se!