Márcio Macico l’Oliveira
Para
cumprir sua missão, a Igreja, impulsionada pelo Espírito Santo, acolhe, reza a
Palavra que salva, escuta os sinais dos
tempos, revê práticas pastorais e discerne objetivos e caminhos.
Dom Leonardo U. Steiner, Apresentação das DGAE’11-15.
O cristão do futuro será um místico - alguém que experimentou
alguma coisa - ou não será nada.
Karl Rahner
A Igreja é o melhor lugar.../É minha raça, estou/ em casa como no
meu quarto.
Adélia Prado, Bagagem.
Primeiro Passo
1.
Con-templar
Jesus. ‘Quando con-templamos verdadeiramente Jesus percebemos que ele arma
sua tenda no meio de nossa realidade’ (cf.
DGAE 4-5; Jo 1,14). Mas que Jesus? Onde está Jesus? Quem é esse Jesus mesmo? O
que tem nos anunciando? É míster saber onde procurar o Senhor, isso, pois, Ele nos pede que o procuremos em meio a
seus pequeninos, seus pobres, seu povo. A todo momento está comunicando-se
conosco e nos convidando para festa do Reino (cf. Lc 14,15-24). O encontro pessoal e comunitário que um dia – ou
todo dia – fizemos com Ele, precisa ser alimentado para que, a partir de nós,
seu Evangelho ressoe no mundo. São os ‘olhos de Jesus’ – “Vendo a multidão, ficou tomado de com-paixão...” (Mt 9,6) – nos nossos olhos, que nos permitirão alcançar
essa realidade tão complexa.
Marcas de Nosso Tempo
2.
‘Incertezas’
de critérios. Os ‘olhos de Jesus’ nos fazem ver a verdadeira face da
realidade que está a nossa frente. Entre os mais desafiadores dos traços desse
tempo em que vivemos está a inseguraça
e dúvida em relação aos valores e questões
fundamentais da vida: afinal, o que é mesmo importante em nossa vida? Ainda
mais, não se trata só da ‘escolha de critérios’ - escolher entre o bem e o mal
-, mas “as mudanças de época atingem
os próprios critérios de compreender a vida, tudo o que a ela diz respeito,
inclusive a prórpia maneira de entender Deus” (DGAE 25) – a questão agora é: ‘o
que é o bem?’ ‘O que é mal?’. E isso se torna preocupante ao pontos de não
sabermos ao certo do que estamos falando ou o que estamos fazendo, ou seja,
podemos estar falando de fé, mas nossa vida não expressa nenhuma crença
especial. Vivemos em “tempos líquidos”, é preciso segurar-se em algo, mas não
sabemos em que segurar direito, as coisas escorrem de nossas mãos[1].
3.
Individualismo e fundamentalismo. Nesse
tempo “di-verso”, a noção de compromisso
e pertença ficam completante
comprometidas, sem falar na questão da justiça que, fica quase impossível
porque o que vale é a ‘Lei de Gérson’: “O melhor para mim!” As comunidades têm
experimentado como pode ser violento o individualismo na evasão de seus membros. Já se falou: “Jesus, sim! Igreja, não!”,
mas hoje a máxima parece ser: “Jesus, não! Igreja, nem pensar!” Associado ao
individualismo, no âmbito religioso, “o fundamentalismo torna-se ainda mais
perigoso, pois impede que perceba o outro como diferente” (DGAE 23): o outro -
pessoa, Igrejas e religiões -, que deveriam ser nossa ‘completude’ (E.
Levinás), tornam-se nosso ‘inferno’ (J. P. Sartre). Essas questões nos afetam
diretamente por que mexem com nossos ser
Igreja, que implica em vida comunitária, diálogo, amizade e constução “conjunta”
de um outro mundo possível.
Fontes da
Evangelização
4.
‘Palavra
do Senhor’, Vaticano II e Aparecida. É tempo de voltarmos com
particular atenção e assiduidade às fontes de nossa fé: à Palavra de Deus, de forma particular impulsinoda pela Exortação
Apostólica Pós-Sinodal “Verbo Domini”, do Papa Bento XVI sobre a Palavra de
Deus na vida e missão da Igreja; aos documentos
do Concílio Vaticano II (na esteira da celebração de seu Cinquentenário), a
maior autoridade em ensinamento da Igreja, sobretudo no que diz respeito ao diálogo com as outras Igrejas e religiões,
com o homem moderno e com o mundo de hoje, que nos incita dizendo: “... a
Igreja reza e trabalha ao mesmo tempo, para que a plenitude do mundo todo entre
no grêmio do Povo de Deus” (LG 17); e ainda, no nosso contexto latino-americano
e brasileiro, o Documento de Aparecida
é o ‘catecismo pastoral’ dos discípulos missionários, onde compreendemos que “nenhuma
comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as suas forças,
nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as
ultrapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé” (DAp 365b).
Constantes da Evangelização
5.
Conversão
pastoral. É preciso “ir além de uma pastoral de mera conservação” (cf. DAp
370). Só iremos compreender e transformar evangelicamente a realidade eclesial
e social em que vivemos se nossa forma de ser
e fazer Igreja passar por uma
“conversão estrutural”; as estruturas ‘velhas’ de ação pastoral não estão
conseguindo dar resposta as perguntas dos homens e mulheres deste tempo. Essa mudança
precisa ser radical (a partir da ‘raiz’) expressa com uma presença missionária
que esteja atenta as preces ‘silenciosas’ e ‘silenciadas’ de nossos irmãos onde
estiverem. Pastores e lideranças, pastorais e movimentos, organismos e
estruturas não podem precindir dessa transformação, pelo contrário ela dese
assumida comunitariamente.
6. Urgências. Urgente é aquilo que não se pode adiar, mas para a missão dos discípulos
missionários, é mais que isso, “urgências” são necessidades e ao mesmo
tempo ‘exencialidades’ de nossa Igreja. É mais que dizer ‘prioridade’, é aquilo
que, inclusive, toda prioridade deve priorizar. São elas: Igreja em estado permanente de missão; Igreja: casa da iniciação
cristã; Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; Igreja:
comunidade de comunidades; Igreja a serviço da vida plena para todos. As
urgências precisam ser os perenes, permanentes e persistentes compromissos da
Igreja, sem as quais, a Igreja não conseguirá eficazmente levar em frente o
Reino de Deus.
Cinco Urgências
7.
Urgente saída. Será que conseguimos definir com facilidade o que é
missão? Ou qual o significado da missão hoje? Diz Dom Hélder Câmara: “Partir, mais do que
devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é
abrir-se aos outros, descobrí-los, ir-lhes ao encontro!” Não se trata de um
tempo expecífico de nosso calendário pastoral ou um lugar previamente
escolhido, o tempo de missão (do latim, missio, que quer dizer ‘envio’) é sempre
“o hoje” e os lugares de exigente missão estão ao nosso lado, em nossa frente
gritando uma presença cristã; é preciso ir longe (hoje “Cristo aponta para a Amazônia”, dizia Paulo VI), mas não
esquecer daqui de perto. Essa “urgente saída”, “permanente missão” (cf. DGAE 31) diz respeito ao nosso ser
cristão, ao batismo que acolhemos, a con-vocação Jesus, frente a qual, quiçá,
possamos responder com Paulo: “Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16).
8.
Urgente (re) iniciação cristã. Ao olharmos sobre nós mesmos devemos
reconhecer em nossa comunidade a “Casa de Iniciação Cristã”, ou seja, lugar de
“suscitar nos corações o seguimento de apaixonado” (DGAE 38) a Jesus. Começar o
‘catecumenato’ na paróquia é um tímido início, mas que isso, é mister envolver
todas ações, pastorais, movimentos e estruturas numa dinâmica catecumenal:
anunciar Jesus (“kerigma”),
proporcionar experiência de diálogo fraterno (“dia-logia”), apontar caminhos para o serviço (“diakonia”) e testemunhar o Reino juntos (“martiria”), ou seja, “é preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus
Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo” (DGAE 40).
9.
Urgente (re) descoberta da Escritura.
A Sagrada Escritura precisa voltar a
ser o centro fometador de vida em nossas comunidades e deixar ser
‘intrumentalizada’ em momentos litúrgicos e reuniões. “O atual momento da ação
evangelizadora convida o discípulo missionário a redescobrir o contato pessoal
e comunitário com a Palavra” (DGAE 45), pois “ignorar as Escrituras é ignorar o
próprio Cristo” (S. Jerônimo). Ela é a primeira e grande fonte de nossa fé. Ela
nos faz perceber que “Deus fala misturado nas coisas: os olhos da gente
percebem só as coisas, mas a fé enxerga Deus que aí nos fala”[2].
10.
Urgente! Rede de comunidades. É em meio às alegrias e angústias das
comunidades que os discípulos missionários realizam o seguimento de Jesus. “Sem
vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã, isto é, o
Reino de Deus” (DGAE 56), na comunidade Jesus confronta e questina,
chamando-nos a construir um Igreja profética e uma sociedade justa e solidária.
A Igreja é comunidade de comunidades e
deve esmerar-se em ser rede de
comunidades, um espaço plural e frutuoso, escola de diálogo, amor, justiça
e fé, onde os cristãos com criatividade
e sensibilidade possam realizar-se
como os primeiros cristão: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos
apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Isso
só será possível através da renovação das
paróquias, mudança no cerne de suas estruturas, por exemplo, através de sua
‘setorização’ em unidades menores, a qual, de forma particular, os leigos e
leigas possam exercer seus diversos ministérios em comunhão com seu pastor (cf. DGAE 138).
11.
Serviço
testemunhal urgente. “As alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias
dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos que sofrem, são também as
alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS
1), diz o Vaticano II. A Igreja como “advogada da justiça e dos pobres” (cf.
DGAE 113), não pode, de forma alguma ‘olhar de fora’ os dramas e dores de nossa
sociedade, logo que são os dramas e dores de seu povo, nossos irmãos. Por isso
é fundamental mirar os “novos rostos dos pobres” (DAp 402) e efetivar a opção pelos pobres, como uma opção do
próprio Jesus, não assitencialista e concreta, a partir de nossas comunidades,
espaços de fraternidade, justiça e esperança.
Como Fazer
12.
Pensar
a ação. “Quem faz um poema abre
uma janela”, diz Quintana[3].
Poesia tem muito haver com pastoral, quem faz pastoral também abre janelas, portas,
portinholas, frestas, buracos, por sua vez, estas levam para o mesmo lugar: o
Reino de Deus. Por isso é preciso planejar:
“Planejar é ‘pensar a ação’ antes, durante e depois dela” (DGAE 123). Na
maioria das vezes conseguimos até planejar, mas nossos planejamesntos não
condizem com a realidade ou carecem de coerência prática; ou seja, não estamos
pensando bem! A comunidade é a nossa casa, ela será bem melhor quando nós a
fizermos assim.
13.
Passos Fundamentais. No nosso
planejamento podemos seguir alguns passos: (VER) 1) Onde estamos: conhecer nossa realidade, ‘colocar os pés no chão!’
(cf. DGAE 127); 2) Onde precisamos estar: pontuar os lugares de ação no âmbito da
pessoa, da comunidade e da sociedade; 3)
Quais são nossas urgências: expecificar o essencial de ‘onde devemos
estar’; (JULGAR) 4) Que precisamos
alcançar: elencar objetivos claros e pontuais; 5) Como vamos agir: buscar iluminação dos documentos da Igreja, de
forma particular nas DGAEs, no Vaticano II e, claro, na Escritura; (AGIR) 6) Que vamos fazer: programar a ação evangelizadora;
7) Renovação das estruturas: mudar as
estruturas pastorais de ação.
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